domingo, 27 de junho de 2010

Realidade e caos

Seguiam a passos firmes aqueles dois indivíduos. Um alto, forte, espáduas largas, aparentando quarenta anos. Trazia à cintura um revólver calibre 38, que o acompanhava sempre. Outro era baixo, franzino, com enormes suíças e expressão carrancuda. Também trazia à cintura o velho companheiro de batalhas, seu instrumento de trabalho, com o qual mantinha enorme intimidade, pois já era, com apenas seus vinte e nove anos de idade, o atirador mais habilidoso de todo o batalhão.

Ambos mantinham aspecto grave, parecia que nada pudesse alterar seus trajetos. Caminhando decididos em direção ao coreto, que ficava no centro daquela praça onde, outrora, passavam-se horas agradáveis aos sons das serenatas e declarações de amor improvisadas pelos galanteadores e seresteiros daquela época, oferecidas às suas musas inspiradoras. Hoje, porém, não sobraram nem alguns versos livres que pudessem fazer a alegria de alguns mais nostálgicos.

Tudo era um breu só. As trevas engoliam com voracidade alucinante toda a beleza das flores. Toda a poesia dos aromas que ficavam no ar, agora, era tragado veementemente pelas hordas do império negro. Não se podia enxergar além de uns poucos metros ao redor. O brilho dos sorrisos angelicais das almas femininas de outros tempos ficara para sempre esquecido no passado.

Hoje a realidade era cruel. Tão mais cruel quanto mais os dois homens armados aproximavam-se do local alvejado: o coreto central. Lá jazia, ainda com o sangue quente a percorrer o solo desgastado do antigo centro de atrações, o corpo de uma jovem. Aparentando dezessete anos, menor de idade, vivia nas ruas da agonia e do destino. Destino este que lhe fora imposto pela irresponsabilidade de ações atrozes dos seres humanos. Aquela jovem, ali inerte, como folha seca de árvore que, em determinadas épocas do ano, cai ao chão para misturar-se à terra, a qual lhe oferecera o seu melhor alimento. Era como os frutos degenerados pelos agentes nocivos da própria natureza, que os maculam e abreviam suas vidas a um curto espaço de tempo, privando-os de serem saboreados com satisfação pelos paladares mais apurados.

Agora era o fim. Talvez nem isto; ou o que é pior, só continuidade. O fato é que jazia mais uma vítima das selvagerias urbanas, que pelo "prazer" de alguns efêmeros minutos, geram vidas sem rumos, sementes inférteis, condenadas pelo próprio existencialismo. Que fazer? - Viver, talvez... Mas, será que poderemos tornar-nos tão insensíveis a ponto de ignorarmos o que acontece ao nosso redor? A violência banal e estúpida, cada vez mais despropositada, irracional - entretanto, cada vez mais humana -, está aí, nas ruas; virando qualquer esquina você depara com uma delas. Tão evidente e espontânea quanto o calor do sol. Esta violência que nos cinge a mente e a limita-nos a vivermos trancafiados a "sete chaves" em nossas casas, apartamentos, humildes barracos. "Os assassinos estão livres. Nós não estamos..." (Renato Russo, Legião Urbana, Teatro dos Vampiros).

O que sobrará de nós daqui a uma década ou o que seremos nós após este período? Para ambas as questões, a resposta é uma só: nada. Sobrará coisa nenhuma, seremos um nada, salvo se tomarmos providências já. Que providências, contudo, poderíamos tomar? Como agir? Unamo-nos e concentremo-nos nossos pensamentos e reais discussões numa só corrente e então descobriremos qual a solução mais exeqüível ao caso. Começando, por exemplo, por tratar as pessoas como gostaríamos de sermos tratados. É simples assim: você entrega gentileza e cortesia e a receberá de volta com satisfação. Ora, se quando nos tratam mal, não desejamos reagir na mesma via? Por que não tomarmos a iniciativa das boas ações? O que não se pode é ficarmos sem fazer nada.

“O mundo que deixaremos aos nossos filhos depende dos filhos que deixaremos para o mundo”. Frase dita no 2º Fórum Internacional Criança e Consumo. Esse é o foco hoje. Contardo Calligaris disse certa vez, com muita propriedade, "As crianças são adultos em férias". Pois, eles estão fazendo tudo que os adultos precisam conquistar para merecer, enquanto eles não precisam fazer nada e já o recebem. Onde está o sabor do mérito? Não há e não quer parecer-me que anda sendo tão urgente, uma vez que se recebe "tudo aquilo que eu não tive, quero dar aos meus filhos". Compreendo que devamos zelar pelo bem-estar físico e psicológico dos nossos filhos. Isso, todavia, não significa dar materialmente tudo que pedem. Nós não conseguimos materialmente tudo que queremos e do que precisamos! Cuidar desse bem-estar de que falamos é alimentar a alma com boas lições diárias para a firmeza do caráter, para a construção sólida da personalidade, exemplos de cidadania e respeito ao próximo. Isso, pasmem os mais céticos, trará inúmeros resultados positivos a uma vida feliz aos nossos filhos. E vida feliz de uns será vida feliz para muitos.

Muito bem ilustra essa relação de ética e atenção as cenas impagáveis e extraordinariamente interpretadas pelos atores Tony Ramos e Dan Stulbach, no filme "Tempos de Paz" (direção - Daniel Filho, roteiro - Bosco Brasil), em que a magia do teatro - e, por conseguinte o das artes - é capaz de despertar e incutir nos corações mais brutos e insensíveis o ideal de humanidade. Esse filme, sem erro em dizer, é uma verdadeira Ode de Amor ao Teatro que resgata e salva. Isso demonstra que cada um, a seu jeito, pode fazer alguma coisa para melhorar o que "parece" não ter mais jeito. Vamos respeitar as regras no trânsito para melhorar o tráfego de automóveis e pedestres; vamos respeitar a limpeza pública, para que todos caminhem por espaços agradáveis; vamos respeitar enquanto atendentes e atendidos nos comércios e órgãos públicos, para que todos alcancem seus objetivos em cada um desses lugares com dignidade. Não parece difícil. Mas, o mais importante disso tudo, é mostrar aos nossos filhos como nos comportamos em relação aos outros, para que eles tenham orgulho de se comportarem da mesma maneira respeitosa.

Não parar em filas duplas em frente às escolas, onde centenas de crianças ao ver tal atitude se perguntarão: por que todos estão na fila correta e aquele sujeito não? O que ele tem de diferente? Será que eu poderei agir assim também?
Não estacionar seu carro tomando mais que a vaga devida e demarcada, dando a oportunidade para que outros também possam utilizar aquele espaço, fazendo ver ao nosso filho e às demais crianças que o aproveitamento racional e o acatamento às regras melhoram a convivência entre todos os que necessitam e igualmente fazem jus àquela vaga.
Tratar com o máximo de decência a quem nos serve na prestação de serviço, pois esses profissionais vendem a força de trabalho e não a dignidade. Todos nós servimos e somos servidos em praticamente todos os momentos da nossa vida e nossos filhos precisam reconhecer que a função do ser humano é auxiliar seu semelhante, e que tratar com deferência faz parte de ambas as partes.

Por ora, enquanto as ações estão apenas na fase das idéias e ideais, prestemos atenção e reverenciemos a mais uma vítima da crueldade, da frieza, da hostilidade da raça humana. É mais um ente que nunca mais fará parte de nosso mundo, de nossas recreações, tão somente porque, mais uma vez, negligenciamos; permanecemos estáticos e sem o mínimo esforço deixamos as trágicas conseqüências da selvageria, que impera no universo, seguir seu triste e tão sórdido caminho, para um objetivo único: exterminar de vez com a pequena dimensão que ocupa hoje a paz em todo o mundo.

Não deixemos que novas vítimas sejam feitas, não deixemos que sejam levados de nós os entes queridos. Sejamos solidários, confraternizemo-nos; sejamos uma família só, construindo o nosso lar com flores, harmonia, pureza e felicidade autênticas. Respiremos o ar da liberdade. Abandonemos para sempre o oxigênio da angústia, da agonia, da depressão. Enfim, desmantelemos de vez toda e qualquer causa geradora de sentimentos atrozes e vingativos que nunca nos deveriam ter acometidos e que, se descuidarmos, poderá ser a nossa ruína total.

Ainda bem que existe o outro!

Para justificar erros, omissões e incompetência, ninguém melhor que o outro. E isto adianta?

Uma das coisas mais irritantes nas empresas é o perfil psicológico de funcionários que procuram eximir-se de suas responsabilidades, colocando a culpa nos outros.

Passar o "macaco", como dizem os americanos, e devolver a tarefa ao seu chefe ou aos seus pares, contando com uma das desculpas tradicionalmente aceitas na cultura das empresas brasileiras.

No Brasil, usa-se "passar o mico". Talvez este comportamento possa ser explicado, uma vez que é esse o processo natural de autodefesa contra uma chefia autoritária e burocratizada, onde não se admitem erros ou omissões.

O jogo de empurra-empurra é uma instituição nacional. Até mesmo os governantes utilizam-se desse expediente, pelo temor de tomar iniciativas que possam gerar polêmicas. O medo de criar caso faz com que o brasileiro diga "deixar como está, para ver como fica".

O tempo, muitas vezes, resolve por si só as questões, justificando assim a atitude preguiçosa das pessoas. Como a crítica destrutiva campeia facil, só anunciará a crença de que tomar qualquer iniciativa gera tantos riscos, que é melhor não fazer nada. Embora freqüentemente em administração de empresa, "mais vale uma decisão errada no tempo certo do que uma decisão certa no tempo errado".

Os conceitos populares arraigados na cultura do nosso povo são levados para dentro das empresas, gerando atitudes negativas no desenvolvimento dos negócios. Às vezes, o costume, a urgência, a hierarquia rígida, a confusão de funções, o excesso de autoestima e importância, geram a fuga da responsabilidade pela iniciativa. Daí a existência de uma verdadeira Tabela de Desculpas. Vamos a ela:

01 - Ainda não fui informado.
02 - Estou tão ocupado que não tenho tempo.
03 - Estou com tanto trabalho que não posso fazer.
04 - Não sabia que você tinha tanta pressa.
05 - Ainda estou aguardando a aprovação do chefe.
06 - Estou aguardando meu chefe chegar para perguntar a ele.
07 - Ninguém me disse que era para continuar.
08 - Sempre fiz dessa maneira.
09 - Como poderia saber que não era assim?
10 - Ih! Esqueci!
11 - Pensei que já havia dito.
12 - Achei que não era importante.
13 - Este não é meu trabalho.
14 - Não compete ao meu departamento.
15 - Não fui contratado para isso.
16 - Já era pra começar?
17 - Disseram que era pra fazer, mas não disseram que seria pra "eu fazer".
18 - Em vez de só esperar, por que não fez você mesmo?
19 - Falta-me conhecimento, só estou estagiando nesse setor.
20 - Se todo mundo sabia que era pra fazer, então por que ninguém fez?

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Sinal dos tempos...

Ontem quando saí de casa, notei algo que me deixou intrigado. As pessoas passavam apressadas pelas ruas, umas pelas outras, sem se cumprimentarem, nem um aceno, nada!

Tão apáticas a tudo, tão isoladas num mundo íntimo, profundamente só.

Assim é a solidão. No silêncio reside uma das principais características desse estado mórbio de espírito. Mórbido sim! Pois a solidão pode ser tomada por uma doença. E somos todos sós, em essência. Mesmo aqueles que se refugiam no âmago de um grupo de pessoas, reunidas para espantar o medo vago da solidão.

Mesmo nessas reuniões, fortuitas ou não, encontramos o "estado só". Apenas o coração pode senti-lo. A felicidade é um estado de espírito, um instantâneo pessoal. A solidão, entretanto, é algo que existe, insiste e permanece nas entranhas do ser humano. Não há nada mais desalentador que se sentir sozinho numa tarde de sábado, falseada por um prazer inexistente em meio a "muitos". Encontrar-se isolado sobre uma cama fria, vazia e sem vida no fim de noite.

Toda essa situação tem origem no próprio desenvolvimento das sociedades.

Todos nós temos receios. Receio de sermos ludibriados, passados para trás; receio de nos comportarmos com lealdade e fidelidade e sermos os únicos a agirem assim ainda; receio de não acompanharmos o desenrolar dos acontecimentos; receio de não nos notarem, de não nos notabilizarmos; receio de não aparecermos mais que algum outro; receio de ficarmos para pagar a conta sozinhos; receio de não nos tornarmos célebres, ainda que sem mérito; receio de tudo, receios, enfim.

E, por causa dos receios não há recreios.

A própria estrutura social está se ruindo, esgarçando. Estamos nos afastando das recreações sociais. O mundo anda tão violento que não nos é permitido caminhar pelas ruas sem o temor de sermos assaltados a qualquer momento.

As jóias que as mulheres ganham de presentes no aniversário, Natal ou qualquer outra comemoração ou data especial passaram a ser adornos de cofres e não mais de pescoços, pulsos, dedos e tornozelos.

Bem, para concluir, chegamos à constatação de que isso tem um nome: progresso e civilização. Isso é o progresso e o desenvolvimento. É tudo aquilo que nossos antepassados ansearam para nós.

Não sei não, mas tenho motivos suficientes para acreditar que eles queriam mesmo é nos sacanear.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Trote em calouros na Unicamp.

Será mesmo que faculdade é sinônimo de mais cultura e educação?
Calouros humilhados novamente na Unicamp.
Link: http://tinyurl.com/3a5ko9d

Se os trotes em faculdade fossem ao contrário, ou seja, calouros humilhando os veteranos - que seriam os mais preparados para a vida (?)-, vá lá. Porque afinal, seriam as pessoas "menos aculturadas" e "menos educadas", não é isso, "alunos da Unicamp"!

É como diz uma frase célebre de Alexandre Herculano, que todo mundo já cansou de ouvir: "Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais".

O ser humano é mesmo a nojeira retratada no livro de José Saramago "Ensaio sobre a cegueira". Basta "julgar possuir" algum poder para acreditarem capazes de submeter outras pessoas aos seus caprichos bizarros.

Conhecimento, educação, cultura não nos privilegia a destratar outros; antes, nos torna mais responsáveis pela preservação da paz e convívio social. Que espécie de "sabedoria" se busca nas faculdades, afinal?!

Não é de se estranhar que os grandes gênios da humanidade passaram ao largo de atitudes tão vis e mesquinhas como essas, pois preocupavam-se com a construção de algo saudável e instrutivo do que a destruição mesquinha, pura e simples desses ditos "espertalhões".

E mais, sobre os trotes em faculdades como a Unicamp, seus alunos não são pessoas desprovidas do mínimo necessário ao aprimoramento cultural. Pertencem às classes ditas "elites". E elite no dicionário quer dizer "o melhor de algo". Essas pessoas são coisas de "o melhor de algo"?

Campanhas e mais campanhas até vinculadas pela internet para que o indivíduo trate com mais gentileza o semelhante e alunos de Ciência da Computação da Unicamp julgando-se "melhores" que os outros para a prática indecente de humilhações. Uns m*** impotentes que necessitam da violência para se acharem "respeitados", porque através da inteligência e do carisma isso nunca aconteceria; pois não os possuem.

domingo, 20 de junho de 2010

O tempo é o vento

O TEMPO É O VENTO

O leitor já foi informado do último computador, do último celular, do último MP qualquer coisa, do último I- qualquer coisa, tudo-tudo-tudo de última geração que acabaram de ser lançados? Não?! Epa! Já deixaram de ser os últimos lançamentos. Informaram-me agora mesmo que essas "esplêndias" máquinas modernas com avançadíssimas tecnologias já foram substituídas por "novas" - e vejam que aquelas foram anunciadas pela primeira vez na semana passada! E o que é pior, antes de terminar esse texto, já terão assumido o papel de ultrapassadas, antigas, obsoletas, "carroças". Nunca antes na história do mundo e dos homens (e não só na história desse país, como diz sempre um velho conhecido de vocês.), se obteve tanto material para historiadores. A todo instante surgem novos eventos. Fatos fartos; historiadores escasos.

Ultimamente falta-nos tempo para analisarmos os acontecimentos, refleti-los, desdobrá-los, esmiuçá-los, criticá-los e, quem sabe, talvez assim, compreendê-los. Já se tornou impraticável como na base de toda filosofia buscar a verdade única, incontroversa, incontestável, "verdadeira" (data máxima vênia aos incorrigíveis literatos de plantão ao pleonasmo aqui inserido. É que andam existindo tantas "verdades" pelo mundo...), através de métodos dialéticos e retóricos, que demandam tempo excessivo para proceder-se às buscas, pesquisas, estudos, discussões, debates etc.

A história escapa-nos e com ela os atos humanos ou naturais, efêmeros, passageiros, velozes, esvaem-se. Culpa de quem? Tua, caro leitor. Tu tens pressa demais; já não anda, voa pela vida. Deseja tudo "agora", anseia pelo sucesso, êxito e glória antes que seja tarde. Mas "o que é tarde"? O tempo é relativo. O que é tarde para ti pode ser demasiado cedo para mim e alvorada ainda para outrem.

A vida é curta ou tu a encurtas? Não corra, não te apresses a vislumbrar o fim. Sábios os ébrios, que titubeiam aqui, vacilam ali, estiram-se acolá. Olham para o céu, o firmamento gigantesco, implacável, inexorável, sempre azul - para os que não estão nas grandes cidades cinzentas, óbvio! -, o resplandecer de um novo dia, nova aurora, morosamente o astro-rei espreguiça-se por detrás dos montes (ele, o Sol, que conhece a vida dos séculos e os segredos do mundo, sabe que tudo acaba onde começa e que debaixo dele não há nada novo. Aliás, debaixo dele apenas ficam as ruínas, depredações, vírus criados em laboratórios - porque os naturais parecem não ser suficientes!

Essa, entretanto, já é uma questão científica. E como eu conheço e dedico-me à ciência tanto quanto o leitor empenha-se no estudo do sânscrito em braile, julgo ser o momento de tomarmos outro rumo. Um atalho para o fim. Afinal, tu, leitor, tens pressa de alcançar o fim da leitura para "aproveitar" melhor o dia, não tens?

Vá lá que tenhas, pois eu, por mim, já estou no limiar do epílogo, avistando a linha de chegada; mais umas palavrinhas e pronto. Pronto. Ah! Em tempo, como discurso de campeão no pódium, porque se tu chegaste a esse final, terá sido porque eu consegui vencê-lo com meu zigue-zague retórico.

De uma melancolia

Agora está escuro. A luz?... Apagou-se. O Sol?... Pôs-se além do horizonte, a percorrer novas fronteiras, a levar vida a outras nações, a levar a minha vida. Da festa somente sobraram restos; restos de tudo; restos de nada. Restos de comidas, de fogueiras, de músicas - melancólica música a soar em meus ouvidos, embalando-me numa agonia desesperadora. Há também resto de gente. Sobras que não fariam falta caso não existissem. Disso não sobram dúvidas: esse resto de gente sou eu. Ofereci a minha casa para que todos se divertissem. Vieram todos. Porém, agora, já não há viv'alma a me fazer companhia. Durante o tempo em que se dava a festa eu julgava que fosse querido por todos. Concluo agora, entretanto, que foi apenas uma lúgubre ilusão. Menti para im mesmo. A realidade que me cerca e que me exprobra, nesse momento, é somente o vácuo que me engole e estrangula-me a razão.

"Não sou ninguém." - ou será que devo dizer "Sou ninguém."?... Não importa. O que importa é que mais uma vez estou na solidão. Perdido no espaço em que minutos parecia ser tão reduzido em virtude da prsença de tantos convivas. Nesse instante afogo-me em delírios sem fundamentos - o que eu disse? Desde quando um delírio é, ou está fundamentado em alguma coisa? Supunha que se oferecesse uma festa, as pessoas tornar-se-iam minhas amigas e conversaríamos até o romper da manhã seguinte. Frustrei-me.

A amargura corrói-me por dentro. Tenho vontade de gritar, praguejar, imprecar contra todos aqueles que estiveram aqui e fartaram-se da minha comida, desperdiçando parte dela. Mas não posso gritar; não posso nem mesmo suster-me em pé. A voz perdeu-se no eco desta solidão. Sou apenas um vulto negro nesta escuridão que me esconde daqueles que ainda percorrem essas ruas ermas, quase sem luz. O brilho dos meus olhos ofuscara-se ao advento de mais um malogro. Serei eu um objeto do infortúnio? Da má sorte?... Não adianta... De que me serve formular questões, querer saber algo se não tenho nem mesmo com quem dividir esta tristeza que me subjuga e me aterra?

Que farei, senão esperara, pois que, amanhã será outro dia e como diz aquele insuportável ditado popular: "Nada como um dia após o outro." - Mas por que tem de haver uma noite no meio? Estirarei meu corpo sobre o solo frio. Gélido como a insensibilidade daqueles suciantes que me desterraram de alguma sepultura - que eu mesmo cavara -, para logo depois lançar-me por terra novamente. Ou talvez, não, gélido como a minha própria insanidade em oferecer tal evento, de retirar-me daquela cova em que me lançarei outra vez. Cá estou, souzinho. Nem a lua apareceu, nem as estrelas apareceram hoje; a noite está nublada; a coruja nem alçou seu vôo costumeiro; os pássaros não gorjeiam mais; o cão não ladra; e eu... eu não sei se estou vivo ainda ou se já parti para um outro mundo, sem o notar. Talvez isso explicaria a indiferença recebida.

O tempo estagnou-se. Como o tempo, o desejo de chorar, gritar, provocar um alarido qualquer também não passa. A minha voz, contudo, está presa, abafada pela frieza de uma existência sem felicidades, sem alegrias, sem cor, sem prazer, sem satisfação, sem nada. Vazia. Vazia no espírito, na alma, no corpo. Todos estamos condenados a esta solidão. POde tardar, mas ela não falha. Não falhou comigo; não há de falhar com ninguém! Por ora, afogo minha mágoa nas lágrimas que caem; são poucas, pois elas também se secam. Sou um espectro que se perdeu no mundo dos homens, incompreendido. Sou apenas mais um, entre tantos que tiram a própria vida apenas porque não os compreendem. Esquecem-nos. Deixam-nos abandonados à própria sorte. Mas, que sorte?

sábado, 19 de junho de 2010

Alguma mensagem

Se você tivesse a exata dimensão da vontade que tenho neste momento de te abraçar, você não estaria em outro lugar que não fosse em meus braços.

Se você pensar, eu completo. Se eu começar, você conclui. Somos parte de um mesmo plano de felicidade arquitetado pelos deuses. Somos um!

Te amo como não poderia amar mais ninguém. Te desejo de forma tal que, além de incluir o corpo, extrapola o limite do físico. Transcende a cognição humana, de um jeito que não há mais como negar. Agora quero ter você "bem mais que perto".

Quero nunca mais ter que pedir nem perguntar; quero apenas adivinhar e ser adivinhado.

Madrugada, sinto forte tua presença e aroma poéticos. Cresce em mim o desejo de estar contigo e cuidar de ti.

Por que toda vez que eu pego no telefone, é você quem chama? Por que toda vez que eu te ligo, nem toca e você já diz alô?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

História dos apaixonados na Terra

Havia um lugar onde amantes eram apenas casais apaixonados que se desejavam e que se queriam mutuamente. Nesse lugar, a felicidade reinava perene e absoluta, não havia rainhas ou reis, apenas os corações comandavam os destinos daquele povoado. De tanta felicidade imperando, seus habitantes turvaram as vistas não percebendo que se fragilizavam em supor que todos poderiam ser bons o tempo todo.

Certo dia, um tirano solitário, achando-se consigo mesmo, arquitetou um infalível plano de acabar com aquela paz ludibriante e, então, após arrebanhar exército formado por peitos de aço e corações de pedra, dominou e sucumbiu a todos quantos por lá viviam.

Hoje esse lugar é habitado por malfeitores sanguinários. Os antigos pacíficos e apaixonados habitantes, todavia, num êxodo irremediável, espalharam-se pelo mundo. Alguns vieram habitar a própria Terra. Acontece, porém, que o modo como tiveram que salvar cada qual a sua vida, fez com que não se estabelecessem em pares e casais, como viviam outrora. A espécie povoou separadamente nosso planeta. A missão de cada um foi encontrar seu par ideal, sua verdadeira cara-metade. Para isso e para se certificarem que o encontro ideal se concretizava, ao se espalharem, o sopro divino da natureza encarregou-se de retirar uma porção de cada um e colocar dentro do outro, o par ideal. Destarte, reconhecer-se-iam ao primeiro contato. Somente aqueles com sensibilidade apurada poderiam perceber tais sensações, somente esses é que seriam os eleitos a reviverem tamanha bem-aventurança prodigiosa de outros tempos.

Deste modo, fica fácil reconhecer em alguns casais a predestinação conferida. Fariam parte de uma população de amantes apaixonados que se reconhecem ao simples toque das mãos, nos olhares mágicos e reveladores, nas preferências e características.

Quem pertencesse a esse mundo fantástico e colorido se reconheceria. Sentir-se-iam absurda e cegamente atraídos, não temeriam adversidades. O amor tornaria a reinar soberano sobre tais cabeças e sob os mandamentos do coração construiriam cada par e casal sua própria galáxia tal como o fora antes, sob as mesmas leis universais da natureza humana pacifica e harmoniosa. Paz e tranqüilidade reinando sobre cabeças dóceis e inocentes pela pureza de um amor autêntico e indissolúvel.

Cada encontro, porém, somente estaria previsto a cada ciclo de preparações e sob rigorosa bateria de exames e avaliações. Somente os preparados seguiriam adiante. Somente os escolhidos se beneficiariam do magnífico encontro arquitetado pelos deuses, o arrebatamento final, a grande e merecida coroa de flores, ricas em cores e aromas para formar, novamente, tal como já existira outrora, os mesmos casais apaixonados do mundo dos amantes. Aqueles pares que doravante, se tornariam inseparáveis para sempre.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O absolutismo absolutamente absurdo

O preconceito e a intolerância levam ao fundamentalismo
exacerbado, perigoso e criminoso.

Só a liberdade de expressão favorece o amadurecimento.
Quando apenas uma linha de pensamento procura dominar e cooptar as cabeças, estas deixam de ser
pensantes, para se alienarem e corroborarem a estupidez e a mesquinheza de algumas células da sociedade que se julgam propagadoras de sabedoria e norteadoras de condutas.

Dangerous!
Essa linha de pensamento linear, sistemático, improdutivo e fatalista busca a derrocada de todo o sistema democrático e da liberdade pura.
Muita atenção e cuidado com os que pregam um raciocínio singular e depauperado pela insana consciência de pseudo-orientação.
Ninguém melhor que você próprio(a) para saber o que é bom ou ruim para ti. Ninguém faz escolhas
por você. Ninguém experimenta por você.
Querem te subtrair a felicidade, mas não buscam amenizar tudas dores. A felicidade vem de dentro, as dores são provocadas pelo mundo.
Atenção! Cuidado! Falsos moralistas, falsos doutrinadores, falsos profetas, falsos conhecedores da verdade. O absolutismo é falso!
Então, quando te empurrarem o que ver, ouvir, ler, aprender, perguntem-se:

"Eles próprios aprenderam ou são meros repetidores?"

Não seja repetidor. Seja construtor. Da tua estrada, da tua vida, da tua felicidade, dos teus momentos.
O que serve bem para os outros, talvez seja muito bom para os outros.

O que serve para mim, deve ser avaliado somente por mim.
Ou então não serei autônomo.

Fantoches manipulados são para outras cabeças.

Saem amarras!!!
Nobody caught me!
Personne ne m'a pris!

Quando vejo pessoas ou entidades buscando promover idéias e ideais com o objetivo de ampliar as vias do debate, apóio e aplaudo.
Mas quando se utilizam de ferramentas como a internet para disseminar a segregação e a
contaminação por pensamentos unilaterais/extremistas, aí algo tem que ser revisto, repensado.
Ninguém possui a verdade única nas mãos.
A verdade não existe. É relativa e cultural. Dinâmica.
Então, vamos buscar sempre o que nos torna melhores e felizes. Ouvir e ler o que nossos olhos e
ouvidos escolherem. Optar pelos caminhos.