terça-feira, 30 de outubro de 2012

Amor Proibido (Poema)

                                         Óleo de Magritte Os Amantes



A vida parece só ter mesmo graça
Nos braços de um amor proibido
Com perfume doce de um beijo maldito
Enquanto o eterno encanto não passa

São mais verdes os campos velados
Que guardam segredos quase tão possíveis
Sonham-se os sonhos todos incríveis
Roubam-se os tesouros de um outro guardado

Mas se é livre, perde-se toda ilusão
As portas abertas não contentam
Num rancho onde sonho, desejo e paixão

Escancarados não se contemplam
Mostram-se a cara, ocultam-se o coração
Reservam-se indecifráveis fendas

DG
.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Um momento (Poema)





Foi assim que aconteceu:
Eu descia e descia muito.
E chegando ao fundo deparei com ele
que não tinha nem cara bela nem feia,
era difuso, um fragmento, esmaecia

Ele queria se compor na imagem que eu fizesse
mas, confuso, não fazia ideia nenhuma
e seu corpo e seus desejos se dissipavam...

Então, a luz voltou a clarear e aquecer tudo ao redor
e ele se desvanecera, antes lentamente,
depois por completo e integral.

E meus olhos, ofuscados por aquele brilho intenso,
puderam entender o significado.
Eu renascia... e o dia amanhecera outra vez...

DG

.

sábado, 27 de outubro de 2012

A Palavra (Poema)





Do poeta
a palavra se despega
do orgulho vão
se desatrela

ganha mundos
rompe chão
alcança os céus
outra estrela

milhões de anos-luz
dele, d'outro, conduz
inesquecível jornada

rasga a manhã, vence a tarde
perpassa a noite e não termina
quando a madrugada rumina...

DG
.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Saudade é amor puro e verdadeiro...






Saudade é bom, coisas boas foram vividas e ficaram marcadas, registradas no coração com tintas que não se apagam.

Saudade também pode ser uma forma de felicidade quando nos "recoloca" naquele tempo e lugar de momentos inesquecíveis, com aroma de flores do campo e a leveza da brisa que acaricia o rosto.

Leve consigo essa saudade, lembrando sempre de que ela é o livro das histórias de amor escrito por múltiplas mãos.

A dor que  existe não é uma cela fria que pune, mas um jardim encantado que persiste nos aromas de amor e felicidade vividos.

A lembrança está toda lá no coração, e não pesa; antes, abre em nossas memórias uma paisagem florida que nos confortam por saber que um dia estivemos juntos.

Essa saudade é amor puro e verdadeiro. Se não foi amor, terá outro nome, não será saudade.


(porque quase tudo passa:
a vida vai passando,
o tempo vai passando,
a dor vai passando...

e o que fica?
a lembrança.
quando boa, chama 'saudade';
se ruim, chama 'lição'.)

DG
.

domingo, 21 de outubro de 2012

Túnel do Amor (Poema)


                                          Túnel do Amor



quero esse túnel infindável
insofismável
indivisível em turnos
quero-o infinito
bonito
travessia de odores
aromas e cores
quero esse túnel de amores...

DG
.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Clarão (Poema)





da janela
sol em raios
desponta

lua bela
de soslaio
me conta

que vi tudo
num clarão
tão cego

fiquei mudo
co'a emoção
tão perto.

DG
.



(para Cat*, meu amor s2)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Assombra (Poema)





(Neste feriado de Nossa Senhora Aparecida e comemoração do dia das crianças, lembremos que não se deve violentar delas a sua ludicidade, sua infância, seus desejos. Que Nossa Senhora Aparecida hoje e sempre ilumine as mentes de cada um para que toda criança seja respeitada, valorizada e amada. Afastemos suas assombrações, sejam as irreais ou aquelas muito físicas e presentes que as perturbam e fazem-nas calar pelo pavor das ameças de consequências aterradoras.)


       e eu que tinha apenas dezessete
              quinze, quatorze, treze
           e eu que tinha apenas doze
                    dez, nove, oito
            e eu que tinha apenas sete
                       seis, cinco, 

                          quatro
                              ...
                         a sombra 

acobertava-me
                         a sombra 

                                      era turva em mim
                         a sombra 

cobria-me o rosto
                         a sombra 

                                      era o universo todo

                         a sombra 

                        há sombras
                         há sobras
                         as sobras
                         soberbas 

                      e  s  t  a  v  a
                 por                   todos 
                 os                     lados
                   c  e  r  c  a  d  o

                                    a sombra
                     assombra
             cala
e tomba
...
três, dois, um...
não vi mais nada
não disse mais nada
não sou mais nada
não sou
mais
nada


DG
.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Essa estrada (Poema)






Essa estrada me condena
Pois sei mesmo a duras penas
Sempre encaro um novo amor
Talvez seja alguma sina
Esse encanto que fascina
De arrastar-me pr'outra dor

Mas um coração sofrido
Que não quer mais os perigos
Deveria se aprumar
Volta atrás do seu dilema
De insistir na mesma cena
Não se cansa de apanhar

Que será que me acontece
Que sempre que me aparece
Não consigo resistir
Será sempre amor bandido
Do que sai sempre ferido
Vai pro embate sucumbir

Desse jeito sigo em frente
Inda encontro muita gente
Que procura me ajudar
Seus conselhos adivinho
São palavras de carinho
Me tentando consolar

Mas qual nada, que consolo
Meu amor é como um tolo
Que faz outro gargalhar
Assim vou seguir sozinho
Procurando outro caminho
Sem dormir pra não sonhar

E na insônia não há nada
Só a densa madrugada
Com saudades sobre mim
Ao lembrar que noutra noite
Tive beijos como açoites
Do princípio até o fim

Quando então a luz apago
Desfaleço em leito amargo
Fecho os olhos pra esquecer
Bons momentos que passei
Tanta lenha que queimei
Tanto amor que fiz arder

Mas no peito ainda guardo
Qualquer coisa do meu fardo
Que me fere o coração
Nem por isso, não desisto
Acredito e no que insisto
É viver outra emoção.

DG
.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Manhãs de abril (Soneto)





Amor, que faço com os meses de abril
Quando passarem por mim suas manhãs
Em que o encanto daquele estado febril
Revelava-nos o sabor das maçãs

Amor, que faço com as noites de frio
Em que teu abraço me aquecia o peito
Esquecíamos lá fora um mundo hostil
E fazíamos amor do nosso jeito

E era perfeito o jeito de nos acharmos
De nos entregarmos, de nos recebermos
E então nos perdermos de novo num sonho

E tínhamos a nós a sós sobre a cama
Verdade é quem ama recebe dos anjos
Auspícios dos santos em noites de outono.

DG
.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

A luz sina (Poema)





"pura é a lua, que chega toda radiante
e faz o sol estupefacto rejubilar brilhante"


excita o que no lilás
na púrpura não fugás
revela o sacrossanto
ardente do semblante
o olhar emperolado
dos lábios encantados
ansiosos por mordê-la
e com afeto sorvê-la
a divina melodia
que alucina
à luz do dia
que fascina
a mesma luz
é a luz

sina.

DG
.