terça-feira, 17 de agosto de 2010

No desjejum

Hoje, mamy e eu tomámos café em nosso jardim de inverno localizado a leste da propriedade, às 4:00h da manhã.

O aroma dos grãos importados da Malásia e torrados ao norte do Canadá empestiava todo o ambiente.

Nosso civeta, vindo do sul da Indonésia, já estava exausto de tanto cagar o Kopi Luwak.

Esperávamos ansiosos que os serviçais terminassem o cansativo processo de decantação para que pudéssemos, enfim, iniciar as atividades gustativas.

Eram poucos, apenas sessenta, não havia necessidade, em razão do cerimonial ser tão informal, que todos se levantassem antes da alvorada, como fazem sempre no verão.

Ela trajava um casaco de pele de morsas albinas do norte de Teerã. Eu, meu robe de tecido com seda das lagartas virgens do sul do Paquistão.

Enquanto bebericávamos nosso desjejum, ela comentava sobre uma nova dor que florescia pelo seu flanco esquerdo e subia até suas costelas flutuantes.

Entre um gemido e outro pude entender que se tratava de uma nova aquisição que duraria pelo menos toda a primavera.

Finalmente, após duas horas agradáveis divagando enebriado pelo ópio do cansaço, pude colocar minha velha carcaça no meu leito Luiz XVI. Sem mais, conchilei.

(Autor: José Marin Neves)

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