domingo, 20 de junho de 2010

De uma melancolia

Agora está escuro. A luz?... Apagou-se. O Sol?... Pôs-se além do horizonte, a percorrer novas fronteiras, a levar vida a outras nações, a levar a minha vida. Da festa somente sobraram restos; restos de tudo; restos de nada. Restos de comidas, de fogueiras, de músicas - melancólica música a soar em meus ouvidos, embalando-me numa agonia desesperadora. Há também resto de gente. Sobras que não fariam falta caso não existissem. Disso não sobram dúvidas: esse resto de gente sou eu. Ofereci a minha casa para que todos se divertissem. Vieram todos. Porém, agora, já não há viv'alma a me fazer companhia. Durante o tempo em que se dava a festa eu julgava que fosse querido por todos. Concluo agora, entretanto, que foi apenas uma lúgubre ilusão. Menti para im mesmo. A realidade que me cerca e que me exprobra, nesse momento, é somente o vácuo que me engole e estrangula-me a razão.

"Não sou ninguém." - ou será que devo dizer "Sou ninguém."?... Não importa. O que importa é que mais uma vez estou na solidão. Perdido no espaço em que minutos parecia ser tão reduzido em virtude da prsença de tantos convivas. Nesse instante afogo-me em delírios sem fundamentos - o que eu disse? Desde quando um delírio é, ou está fundamentado em alguma coisa? Supunha que se oferecesse uma festa, as pessoas tornar-se-iam minhas amigas e conversaríamos até o romper da manhã seguinte. Frustrei-me.

A amargura corrói-me por dentro. Tenho vontade de gritar, praguejar, imprecar contra todos aqueles que estiveram aqui e fartaram-se da minha comida, desperdiçando parte dela. Mas não posso gritar; não posso nem mesmo suster-me em pé. A voz perdeu-se no eco desta solidão. Sou apenas um vulto negro nesta escuridão que me esconde daqueles que ainda percorrem essas ruas ermas, quase sem luz. O brilho dos meus olhos ofuscara-se ao advento de mais um malogro. Serei eu um objeto do infortúnio? Da má sorte?... Não adianta... De que me serve formular questões, querer saber algo se não tenho nem mesmo com quem dividir esta tristeza que me subjuga e me aterra?

Que farei, senão esperara, pois que, amanhã será outro dia e como diz aquele insuportável ditado popular: "Nada como um dia após o outro." - Mas por que tem de haver uma noite no meio? Estirarei meu corpo sobre o solo frio. Gélido como a insensibilidade daqueles suciantes que me desterraram de alguma sepultura - que eu mesmo cavara -, para logo depois lançar-me por terra novamente. Ou talvez, não, gélido como a minha própria insanidade em oferecer tal evento, de retirar-me daquela cova em que me lançarei outra vez. Cá estou, souzinho. Nem a lua apareceu, nem as estrelas apareceram hoje; a noite está nublada; a coruja nem alçou seu vôo costumeiro; os pássaros não gorjeiam mais; o cão não ladra; e eu... eu não sei se estou vivo ainda ou se já parti para um outro mundo, sem o notar. Talvez isso explicaria a indiferença recebida.

O tempo estagnou-se. Como o tempo, o desejo de chorar, gritar, provocar um alarido qualquer também não passa. A minha voz, contudo, está presa, abafada pela frieza de uma existência sem felicidades, sem alegrias, sem cor, sem prazer, sem satisfação, sem nada. Vazia. Vazia no espírito, na alma, no corpo. Todos estamos condenados a esta solidão. POde tardar, mas ela não falha. Não falhou comigo; não há de falhar com ninguém! Por ora, afogo minha mágoa nas lágrimas que caem; são poucas, pois elas também se secam. Sou um espectro que se perdeu no mundo dos homens, incompreendido. Sou apenas mais um, entre tantos que tiram a própria vida apenas porque não os compreendem. Esquecem-nos. Deixam-nos abandonados à própria sorte. Mas, que sorte?

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