Ontem quando saí de casa, notei algo que me deixou intrigado. As pessoas passavam apressadas pelas ruas, umas pelas outras, sem se cumprimentarem, nem um aceno, nada!
Tão apáticas a tudo, tão isoladas num mundo íntimo, profundamente só.
Assim é a solidão. No silêncio reside uma das principais características desse estado mórbio de espírito. Mórbido sim! Pois a solidão pode ser tomada por uma doença. E somos todos sós, em essência. Mesmo aqueles que se refugiam no âmago de um grupo de pessoas, reunidas para espantar o medo vago da solidão.
Mesmo nessas reuniões, fortuitas ou não, encontramos o "estado só". Apenas o coração pode senti-lo. A felicidade é um estado de espírito, um instantâneo pessoal. A solidão, entretanto, é algo que existe, insiste e permanece nas entranhas do ser humano. Não há nada mais desalentador que se sentir sozinho numa tarde de sábado, falseada por um prazer inexistente em meio a "muitos". Encontrar-se isolado sobre uma cama fria, vazia e sem vida no fim de noite.
Toda essa situação tem origem no próprio desenvolvimento das sociedades.
Todos nós temos receios. Receio de sermos ludibriados, passados para trás; receio de nos comportarmos com lealdade e fidelidade e sermos os únicos a agirem assim ainda; receio de não acompanharmos o desenrolar dos acontecimentos; receio de não nos notarem, de não nos notabilizarmos; receio de não aparecermos mais que algum outro; receio de ficarmos para pagar a conta sozinhos; receio de não nos tornarmos célebres, ainda que sem mérito; receio de tudo, receios, enfim.
E, por causa dos receios não há recreios.
A própria estrutura social está se ruindo, esgarçando. Estamos nos afastando das recreações sociais. O mundo anda tão violento que não nos é permitido caminhar pelas ruas sem o temor de sermos assaltados a qualquer momento.
As jóias que as mulheres ganham de presentes no aniversário, Natal ou qualquer outra comemoração ou data especial passaram a ser adornos de cofres e não mais de pescoços, pulsos, dedos e tornozelos.
Bem, para concluir, chegamos à constatação de que isso tem um nome: progresso e civilização. Isso é o progresso e o desenvolvimento. É tudo aquilo que nossos antepassados ansearam para nós.
Não sei não, mas tenho motivos suficientes para acreditar que eles queriam mesmo é nos sacanear.
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